Conseguirá Mourinho ser “sir”?

Era mesmo verdade. Ao fim de meses e meses a fazer de conta, José Mourinho e Manchester United dão finalmente o nó. A questão que se coloca é: conseguirá Mourinho vencer e ser “sir”? Esta é a prova de fogo, onde ser “Special” não é suficiente.  Este é um desafio em que a sede de vencer se confunde com a extrema capacidade de ser superior ao próprio futebol, ao tempo, ao desgaste. É o momento de aprender a saber ganhar para se elevar acima dos demais. O exemplo está lá, e está vivo: Alex Ferguson.

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Se vencer (quase a todo o custo) não fosse algo tão impregnado no ADN de Mourinho, quase apetece dizer que ser despedido do Chelsea foi um ato calculado, uma “planeada” ironia do destino, uma formalidade, uma espécie de gestão de carreira que os Deuses do Futebol se encarregaram de resolver.

Para nós portugueses, para a nossa imprensa, não é o Quinto Império, mas é quase. Com Mourinho (não interessa como, meio a zero serve perfeitamente), nós portugueses ganhamos, não é ele, nem a equipa dele que ganha: somos nós todos, todos juntos no mesmo barco, os que o veneram, os que o adoram e também aqueles que o detestam, que não o suportam. Que se lixe. É português. É português. E é o melhor do mundo, o melhor do MUNDO, o MELHOR DO MUNDO. E está no MELHOR clube do mundo. O Real Madrid já foi o melhor do mundo, com os melhores do mundo, mas agora já não é.  O Manchester sempre foi maior, é o titã dos clubes. E depois da lenda Ferguson – chega o predestinado Mourinho. Quem diz predestinado, pode dizer o detestado, o insolente, o atrevido, o defensivo, o calculista,  para quem ganhar é sempre o mais importante. A reputação é sempre algo que nos persegue. Mourinho fez por isso.

Se existisse um Darth Vader no futebol, Mourinho seria o “perfect match”.

A verdade é que, desde a saída de Alex Ferguson,  o Manchester tentou fugir à tentação, ao destino, às evidências – Mourinho não era “Sir” suficiente para o United era o argumento. Num tom quase shakespeariano, quase trágico, o Teatro dos Sonhos (assim é chamado o Old Trafford, estádio do United) foi-se apagando, um fade out, uma hibernação de um gigante. Por outro lado,  a carreira de Mourinho também sofreu, ainda que com mais uma vitória na Premier League, José parecia amargo, o desgosto de ter sido desconsiderado (afinal as partilhas de Barca Velha com Ferguson não foram suficientes, nem tão pouco as vitórias). A primeira época de verdadeiro insucesso estava ao virar da página.

Ser o “happy one” foi uma alegoria das perversas, não encaixaria nunca no arquétipo Mourinho. É uma história mal contada. Voltar ao Chelsea soou a  vingança: é diferente dizer “venho para ganhar” do que “venho para ser feliz”…ou voltei porque “não me quiseram no local para onde eu queria ir” (Manchester). No Chelsea, em ano atípico, e sem guerras para travar, a felicidade trouxe o comodismo, a acomodação e a certeza de que não podemos fugir do nosso ADN. Mourinho não foi Mourinho, foi despedido, quis voltar de imediato e não conseguiu. Teve que esperar, respeitou o insucesso de Van Gaal e esperou, esperou, esperou. Foi nesse contexto de inevitabilidade que o Manchester United, também rejeitado por Guardiola, se rendeu a José.

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O Manchester United obriga Mourinho a ter outra postura. Mourinho é “Special”, mas agora tem que aprender a ser “Sir” (coisa que lhe faltou há muito muito tempo, quando substituiu Manuel José em Leiria).

Mourinho como todos nós aprende, e muito. Para ser considerado melhor do mundo não chegou ganhar. Foi preciso repetir vezes sem conta que era o melhor (não foi fácil, mas a comunicação resultou), porém também é relevante referir que só se chega ao topo aprendendo com os melhores e tendo talento. Não se chega ao topo de outra forma e, acima de tudo, não se continua lá, sem essa vontade, sem essa ambição de ser mais.

Após a retumbante vitória do Leicester, a Premier League prepara-se para a sua época mais louca: os muitos milhões que chegam aos clubes ingleses, através da venda dos direitos de transmissão televisiva, levaram para a Premier League os melhores treinadores do mundo (Mourinho, Guardiola, Conte, Klopp, Wenger, Ranieri,…); e, com certeza, vai ser onde os melhores jogadores do mundo vão querer estar (até os jogadores do Real Madrid e Barcelona se vão roer de inveja). Com o seu “arqui-inimigo” Pep, no mesmo clube da cidade, Mourinho vai ter o maior desafio da sua carreira: vencer num clube em fase de transição, com a herança de Ferguson aos ombros, e estando perante um grupo de adversários temível e igualmente com muitos milhões para investir. Neste cenário, só os melhores conseguem vencer.

A minha opinião, é que na última temporada de Mourinho no Chelsea, faltou garra, faltou vontade, faltou paixão e faltou querer. São esses ingredientes que de certeza não vão faltar. Se a isso Mourinho conseguir acrescentar vitórias e o “saber ganhar”, criam-se as condições para uma longa estadia em Manchester.

Se um dia Steve Jobs voltou para a Apple porque fazia todo o sentido, Mourinho foi para Manchester. Está certo. Para mim faz sentido. Para os Deuses do Futebol também.

PS- Em jeito de motivação para o Europeu, com esta notícia confirma-se: os Deuses do Futebol falam português. Os brasileiros sempre souberam isso, Eusébio, Figo, Ronaldo e Mourinho também. Os portugueses agora também sabem, e se não sabem deviam.

Images: http://www.manutd.com

 

 

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