Carta à Ministra da Administração Interna

Cara Constança Urbano de Sousa,

Escrevo-lhe com a máxima reverência, mas também com a máxima revolta de quem desespera com tudo o que vê acontecer ao seu redor. Escrevo-lhe na verdade porque tenho uma certa pena de si. Ter-lhe-ão oferecido um presente envenenado, um cargo que parece bom, mas que exige muito.  Exige liderança, exige força e exige carisma de quem diariamente tem que lidar com forças de autoridade, de segurança pública e proteção civil.

Sim, Constança foi a si que o Primeiro Ministro António Costa (ele que também esteve com essa pasta) entregou a proteção de Portugal. É duro escrever, deve ser duro ler. Mas, é a verdade, foi a si. E quanto a isso não há desculpas.

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A postura e a linguagem corporal diminuída de Constança Urbano de Sousa (fotografia- Marcos Borga / Visão)

Além de tudo isto, para este cargo é preciso saber comunicar muito e bem, coisa para a qual a Constança não tem a mínima habilidade, nem os seus assessores a terão conseguido ensinar. Estarei disponível se precisar. Acredito que os meus alunos também lhe conseguiriam dar uma ou outra dica. Com eles recordei o episódio: quando na noite do incêndio na Sertã (se não me falha a memória…foram tantos) decidiu fazer uma conferência de imprensa/comunicado de última hora aos jornalistas sem novidades para dar (às 2 da manhã!). Eu percebo. Não é fácil.

Sabe Constança, nós portugueses não pedimos muito, só queremos que cuidem de nós e nem levantamos muitas ondas, nem nos manifestamos muito mesmo quando a austeridade e a má governação nos deixaram de bolsos vazios e com mais impostos a pagar. Porém, Constança, nós portugueses valorizamos a nossa família, os nossos amigos, o nosso quinhão de terra em sol plantado. Nós queremos estar em paz e ano após ano, somos bombardeados por incêndios, por crimes que lesam a pátria, destroem os nossos bens e que matam pessoas. Ouvimos falar na limpeza das matas, de dar melhores condições aos bombeiros e nada acontece. Constança, ainda se lembra que em 2014 “bombeiro” foi a palavra do ano. Porque será? Quer pensar comigo? Se calhar não é preciso um desenho, pois não? Fico surpreendido, abismado, estarrecido com a coerência que nos assalta do seu discurso. Ficam dúvidas, dúvidas. Sempre dúvidas.

Onde é que está o plano para resolver isto? Qual é a solução? O que se vai fazer? Desde Pedrógão, quais foram as medidas? Vamos voltar a culpar o SIRESP? Ou vamos deixar que seja o S. Pedro e a chuva a resolver o assunto?

Constança viu bem as imagens de ontem? Viu? Já informaram as pessoas do que haviam de fazer? Já? Já informaram se devíamos ou não publicar imagens nas redes sociais? Pois, pois não. Era só uma nota. Temos que ser “resilientes”- foi essa expressão que usou não foi?

Constança, diga-nos: QUEM É QUE SAI A GANHAR COM ISTO? Alguém tem que ser e não há-de ser apenas “um alguém isolado”.

Pois é, pois é, Constança, lendo o artigo da  Visão falou que não é tempo de reagir. Está enganada. É sim tempo de reagir e ferozmente, mas de forma fria, calculada e assertiva. O tempo da proatividade já lá vai..há muito. Agora deixe-me dizer-lhe, tenho imensa, mesmo imensa pena que não tenha ido de férias. É que me parece que precisa de longas férias. Sugiro um local fresco, porque o calor não diz muito consigo.

Por fim, gostaria de rematar dizendo que se a proteção e segurança do país está entregue a si, eu não me sinto seguro, protegido ou em paz. Não me leve a mal, a culpa não é só sua. Nunca é tarde para fazer o que tem que ser feito. Aproveite essa boa decisão e vá de férias. Os portugueses agradecem.

imagens: notíciasaominuto.com

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