Escrevo-te porque admiro a tua coragem, persistência e essa tua propensão para dar o corpo às balas. Tu e só tu és tão ubíquo..mais do que tu, só o presidente Marcelo. Mas, chega de rodeios, vamos ao que interessa.
Tu, Cristiano, aceitaste que o teu nome fosse usado para aquilo que os portugueses fazem pior: dar nomes a aeroportos.
Para nós portugueses, os nomes dos aeroportos são como os filmes de terror: há sempre uma sequela. O Sá Carneiro não teve essa sorte: a de poder dizer que não. Se ele nos estiver a ler, aproveito para dizer que espero que tenha conseguido superar a urticária (ou a comichão como a tua caspa, lembras-te? Ou já não usas Linic? Se usasses estavas como eu, por isso não deves usar). Dar o nome a um aeroporto de uma pessoa que morreu num desastre aéreo seria de génio…só que não é, é só apenas mau e mórbido. No teu caso, perdeste a oportunidade de seres maior do que tu próprio. Ser imortal no gesto e na grandiosidade. (Quem é o teu assessor?!) Lamento dizer-te, com isto a tua ilha ficou mais pequena. Para o mundo, aquele pedaço de terra em mar plantado, é cada vez mais a Madeira do Ronaldo. E não o Ronaldo da Madeira. (Quem concorda, diga pois). É pena.
Sabes, eu adoro futebol, adoro ver os teus golos e a personalidade afirmativa e insaciável que tens em campo, e por isso te digo que para mim, para mim grandioso era ler que deste a oportunidade a outro que merece mais.
A notícia diria: “Cristiano Ronaldo escolhe o nome de João Gonçalves Zarco para o aeroporto do Funchal”. Estou certo que o Tristão e o Bartolomeu também não se importariam de partilhar essa honra. Era uma honra, era uma homenagem e era simbólico.Era um golo daqueles, uma visão de um passado que queremos vivo do qual serias porta-voz .
Mas, não. Eu compreendo, “é marketing” (detesto esta expressão, porque só diz isto quem não sabe o que é marketing). Não, não é marketing. É outra coisa. É falhar um golo à boca da baliza. É ver a oportunidade passar ao lado. Lá no fundo, sempre me pareceu que querias recusar ou fugir a veres o teu nome dado a um aeroporto. Eu sei que é difícil para um português dizer que não e que de “nim, em nim” vamos empatando. Cristiano o que te caracteriza é não seres de empates e também já não precisas fazer fretes. (Eu só gostava de saber é de quem foi a ideia),
Como isto não era suficiente, constatamos que Madeira não é um bom sítio para bustos e estátuas.
Cristiano, digo-o a gritar, sim (!), com exaltação “O QUE É AQUILO, PÁ?”.
Dou-te a liberdade para acrescentares o vernáculo que quiseres ao meu texto, porque todas as palavras más que conheço se aplicam àquele busto, que é somente agora o busto mais conhecido do mundo, pelos piores motivos, sem qualquer valor artístico. Se o nome do aeroporto Sá Carneiro é o Freddy Krueger, o pesadelo em Elm Street, dos nomes, a tua estátua e o teu busto, são seguramente o Jason e o Sexta-feira 13. Quando pensamos que o pesadelo terminou e que é impossível ir mais fundo, descobrimos que afinal não. Se o Jason, o vilão da máscara de hóquei, é de uma “longevidade impressionante” (como li algures), o que dizer das tuas estátuas! (Ninguém deita aquilo abaixo?) Nem um Edvard Munch teria coragem de fazer o seu “grito” tão assustador como aquele busto. Cristiano, e que tal dizer que não? Eu pagava, eu PAGAVA para aquilo não existir.
Quem é que escolhe aqueles escultores? Diz-me! Como diria a minha mãe “Deus venha cá em baixo ver isto”.
No início, confesso, tem piada, mas depois é só bacoco e trabalho de índole duvidosa. Pior, a malta vai querer tirar selfies àquilo. Não te chegou a estátua? Em que nem sequer pareces ser tu? E porque raio (sim, isto enerva-me) na estátua estás com os ombros para a frente a olhar para baixo (em pose de derrota), e braços em baixo, quando na verdade festejas o golo com uma linguagem corporal aberta de vencedor? Vês onde isto chegou? Para falar de comunicação, uso a tua estátua como mau exemplo! Não devia ser o oposto?
Cristiano quem é que te aconselha? Podes dizer-me?
Por fim, queria terminar dizendo-te que até aceito o teu argumento de que preferes que as homenagens sejam feitas em vida. Mas, sabias que o Arnold Schwarzenegger já teve (reforço o teve) um estádio com o seu nome? Não te parece assim demasiado cedo? Pior que não ter nome, é deixar de ter. Já pensaste nisso? Ainda tens tanto para viver, tanto para vencer, tanto para errar… Não te faz confusão esta pressa? A mim faz. E não é por ti. Simplesmente parece assim…vazio de sentido, tal como o museu, que tem nome de museu, mas que é uma sala de troféus. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa, independentemente do nome que lhe dermos.
Assim, porque a conversa já vai longa, me despeço, sem me esquecer de que sempre celebraste em português, ao contrário de outros. Isso sim, ninguém te pode tirar, isso sim, tal como a tua determinação, é de valor. Não és só madeirense, és português, com ou sem aeroportos, com ou sem golos. E tens orgulho nisso. Isso sim basta-me.
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