Domingo. A hora muda. A pandemia continua e a clara noção de que o país não muda. Estamos enganados quando dizemos que Portugal é um país pequeno. Não é. Portugal tem esse dom de se multiplicar em vários países, democracias, estados de exceção e regras diferentes entre regiões, para diversas vontades, interesses, culturas e desportos. É como se o sinal vermelho do semáforo, para outro fosse verde, para outros amarelo e para outros nem sequer existisse. Já dizia a expressão “a Maria vai com as outras…“
Estou, claro, a falar da nova polémica da Fórmula 1 e da permissão de estarem no recinto mais de 27 mil pessoas. Assim, sim assim à primeira vista consigo imaginar as pessoas dispersas por um longo percurso, ao ar livre.
O juízo de valor é meu, mas não é isto que fazemos quando traçamos perfis? Como se quem compra um Ferrari ou uma Limousine não infrige regras do trânsito? Pois é. Em Fátima, depois do polémico setembro, o peregrino que vai pé, em alguns casos ficou à porta.
Facilmente anuímos que nos estádios de futebol ter muita gente é um problema. Os adeptos (não vou usar outra palavra) não se sabem controlar, porque o futebol é um desporto de emoções, de gritos, de contacto e de animosidades à entrada e à saída. Concordo.
Garanto-vos que se fosse ao futebol, estaria muito bem sentado à distância e a festejar para mim, mas sei que cada pessoa é uma pessoa.
Aquilo com o qual não posso concordar, da mesma forma como não concordo com a realização da Festa do Avante (mesmo que assumidamente tenha corrido bem), é com o facto de acharmos que aceitar realizar um evento da dimensão da Fórmula 1, da Liga dos Campeões, do jogo da Seleção, não é enviar uma mensagem a todos os portugueses. Claro que é.
Realizar eventos é comunicar. É afirmar algo, especialmente, eventos públicos e altamente mediatizados. É enviar sinais aos mercados, à opinião pública, às pessoas. Na próxima semana, os portugueses não podem sair do concelho e devem evitar a habitual visita ao cemitério, como se fosse muito diferente ficar na fila para entrar num autódromo, onde me vou sentar por algumas horas.
Eu preferia que me dissessem que a Fórmula 1, no Algarve, se insere num programa qualquer de investimento na região, de uma iniciativa estratégica de captar fundos, ou outra coisa qualquer.
Mas, se se vai realizar o evento, a organização só ao terceiro dia é que percebeu que algumas pessoas não cumprem as regras, não usam máscaras e não ficam no seu lugar? Não esperavam que se tirassem fotografias? Que se criticasse? Ou simplesmente, esfregam as mãos e pensam: “o dinheiro já cá canta, o resto resolve-se…isto não é o Avante, para precisarmos de tanto cuidado. Mais infetado menos infetado, não fará muita diferença”
É por isso que encontro vários países num só, uma mescla de comportamentos que uns têm de ter e outros não. Eu nem sempre concordo com Rui Moreira, ele terá a sua opinião e a sua agenda, mas é fundamental que alguém, que se insurja, porque de facto às parece que temos o Portugal do Algarve, o Portugal do Web Summit, o Portugal do Futebol, o Portugal da Saúde e, claro, o Portugal do Novo Banco.
Relembro, por exemplo, que o Bruno Nogueira teve que adiar o seu espetáculo são joanino, no Porto, por despacho camarário (o que eu discordo), tal como houve polémica no Porto-Boavista em data similar. Sabem que no Norte nós…
Escrevo este texto, por dois motivos:
Um para dizer que a uma comunicação assertiva, eficaz, que envolva as pessoas num desígnio, deveria ser contínua, coerente e congruente. E a deste governo não é. Soa, parece e manifesta-se como um conjunto de estratagemas, para levar para frente uma agenda de alguém, que ninguém sabe quem é.
Dois, porque tal como a situação das máscaras que davam uma falsa ilusão de segurança em abril e que agora são o nosso remédio santo. Sinto, que isto é fazer de nós parvos. Não encontro outra palavra.