Segunda-feira. Para muitos de nós esta é a palavra que marca o início da nossa jornada semanal (é seguramente a par da sexta-feira, por diferentes motivos, o dia da semana que merece mais posts nas redes sociais). Acabou o fim-de-semana e rapidamente enfrentamos o turbilhão emocional que resulta de todas as coisas que temos que fazer e por fazer. Por vezes, ainda é domingo e já estamos com um pé no início da semana. Em alguns casos, iniciamos com o forte entusiasmo, em outros começamos com uma imensa e intensa lista de to do’s que um mês inteiro parece impossível de englobar tudo aquilo que nos propomos a fazer.
Perante o inevitável e depois de um bom café (digo eu), temos duas formas de olhar para a semana, ou a agarramos como quem quer superar mais um desafio, ou nos deixamos levar pela dimensão da montanha e avançamos como quem carrega o mundo nas suas costas, sem conseguir vislumbrar o horizonte. Enfim, qualquer leitura de índole inspiracional (ao som dos dez mandamentos para o sucesso) falará da importância de manter o foco “no prémio”, outras páginas apontarão para o facto de cada tarefa realizada ter o potencial de abrir novas portas e de que quando nos entregamos apaixonadamente ao que fazemos o “universo conspira” a nosso favor e tudo flui. Bem, nem quero sequer pensar no ponto de vista da psicologia sobre o assunto.
Hoje a segunda-feira é a minha metáfora para falar de comunicação. Enfrentar uma nova audiência, apresentar um novo projeto, ir a uma entrevista de emprego, fazer um pitch investimento, estar finalmente a fazer a tão almejada TED Talk, fazem de nós uma espécie de gladiador em dia de circo romano.
Os leões vão estar lá e o público estará pronto para gritar “we will rock you” (tal como em qualquer segunda-feira).
Paralisar não é solução, ter uma “branca” também não, mas o medo está lá…e quando olhamos: o ávido leão avança na nossa direção e entre o decidir fugir e enfrentar a criatura ainda não saímos do sítio – estamos a pensar nas nossas pernas que não mexem, na voz que não sai, a fazer o flashback da nossa vida e a pensar em tudo que devíamos ter feito e ainda não fizemos.
No momento em que o leão se prepara para fazer de cada um de nós a refeição do dia, eis que algo acontece…
…os nossos olhares cruzaram-se, olhos nos olhos. É esse o momento em que o leão hesita e é nesse momento que assumimos o controlo da entrevista, do pitch, da performance da comunicação.
Sugestão número 1: a audiência (o público do circo romano…) quer ser reconhecido, quer que a olhemos nos olhos e a enfrentemos. Não importa o grau de fragilidade, a quantidade de nervosismo – quem está do outro lado sentirá a nossa presença com um simples olhar frontal e sincero. Esse é o instante em que assumimos o controlo e em que a postura se torna mais vertical. (todas as tarefas de segunda-feira querem a nossa atenção…e da primeira passamos à segunda). Como é que isto se faz? Mais simples do que parece, antes de iniciarmos a nossa performance é relevante tirar alguns segundos para encarar a nossa audiência – olhos nos olhos (sem exageros). Se for num auditório é útil uma breve trocar de olhares com pessoas em diferentes pontos da sala, para garantir uma total amplitude.
Muito bem, dizem vocês, o leão hesitou mas continua lá e o público também. Ainda temos 2, 5, 10, 15 minutos de performance pela frente. Pois, mas não é preciso ler o Tony Robbins ou um manual qualquer de boas práticas para saber que respirar é essencial à vida e que nenhum problema se resolveu por estarmos a pensar em nós – “show must go on”.
Em momentos de tensão perante uma audiência tendemos a desenvolver uma enorme consciência corporal e essa atenção tira-nos a concentração e presença – esquecemos a mensagem e quem está do outro lado. Imaginem o que seria estar a falar com alguém com um espelho à nossa frente – o efeito é exatamente o mesmo. Uma performance de comunicação não é sobre nós, é sobre a nossa verdade, a nossa mensagem e (a relevância para) a nossa audiência.
Sugestão número 2: depois de encarar a audiência e porque o leão hesitou temos finalmente tempo para respirar e descontrair o corpo, antes de avançar. Conseguimos finalmente obter a atenção de todos, merecemos o respeito da audiência – agora sim é o momento de avançar. Agora tudo aquilo que dissermos vai ter outra importância. Porém,
Outro aspeto importante sobre as segundas-feiras, é que toda as pessoas têm uma. Todos nós sabemos o que significa chegar a segunda-feira e entrar novamente na montanha-russa. Todos nós gostamos de uma história com a qual nos identificar, e na verdade, na arena, grande parte do público vai admirar a nossa capacidade de enfrentar o leão, de o encarar de frente, e quanto mais se identificarem mais irão apoiar (e por isso saber a nossa história, a nossa causa, conhecer a nossa paixão é primordial).
Naquele momento na arena somos 1 mais 50 mil a assustar o leão e a querer chegar ao final da semana e ter a merecida sexta-feira com o sentimento de conquista. Bem, para mim essa sensação chegará só no domingo, pois decidi enfrentar o leão e dar início ao meu primeiro workshop de comunicação.
Sugestão número 3: a audiência gosta sempre de uma história autêntica, recheada de emoção e de traços com as quais se possa identificar. Somos humanos. Essa energia que se cria, essa ligação é capaz de criar um grau de sintonia tal que as nossas fragilidades passam para segundo plano. O todo será seguramente maior que a soma das partes. Como qualquer segunda-feira que chega ao fim, se a entrega for autêntica e dermos o melhor, ganhamos o direito a mais um dia frente ao leão e o público vai certamente aplaudir.
A comunicação é como qualquer segunda-feira, tende a melhorar com a prática e com a nossa vontade de ir mais longe.
Se há algo de que estou certo é: se comunicarmos com maior competência temos uma maior probabilidade de ter segundas-feiras melhores.