Não. O Chega não vai ser o maior partido português em 2027, nem em 2049, nem o André Ventura é Nostradamus, nem eu vou ganhar uma Bola de Ouro. Não. Ponto. Não neste mundo e não no nosso Portugal. Antes que uma mentira, ou um devaneio, seja repetido demasiadas vezes, é importante por os pés no chão e não distorcer a realidade.
Já vi pelas redes sociais, medo, revolta, receio e indignação com resultado do Chega. Eu assumo, mais do que indignado estou triste, porque no séc. XXI nós já devíamos saber mais. Mas, não estou assustado. Não, com André Ventura. Assusta-me mais a onda que se cria e “hype” (ou exagero) que traz notoriedade dá mais voz a estes movimentos.
Será o Chega extrema direita ou será mais uma direita “oportunista”? Um fogo de luzes orientado para dizer o que mais interessa a cada momento? Será que vamos transformar o país num relvado e quatro linhas, em que André Ventura será chamado a intervir e dar opinião? Não acredito. A política é bem mais complexa do que um jogo ao fim-de-semana…
Já vi pessoas a profetizarem que agora vai ser sempre a crescer – eu não acredito, pois não vejo em André Ventura um líder, alguém capaz de inspirar multidões, alguém preparado para disseminar o ódio pelo ódio em detrimento do proveito próprio. Felizmente. Vejo sim alguém que tirou partido da conjuntura polémica que resulta dos diversos casos que pululam na comunicação social – o nepotismo entre a “família” socialista, o inusitado caso de Tancos, o caso Marquês, a corrupção, o sentimento de insegurança – para aproveitar o seu espaço mediático para se afirmar (qual justiceiro de “pulseira” e espada) e dizer o que um certo “povo” quer ouvir: “chega”, “basta”… E é tão fácil dizer isto, quando se sabe que não se vai governar, quando se sabe que se estará do lado de fora. E para tantas pessoas é tão fácil ir na onda quando se está cansado de lutar… É tão fácil cavalgar essa ideia quando a culpa é sempre dos outros, quando se esquece que juntos podemos ser um pouco mais fortes.
Voltem atrás no tempo, façam esse exercício. Marinho e Pinto e o seu PDR bateram à porta da injustiça e da corrupção e conseguiram um deputado europeu, em 2014.
O “justiceiro” é um arquétipo que todo nós sabemos identificar e esse espaço estava “vazio” desde que Marinho e Pinto provou do seu próprio veneno. Teria o PDR este resultado se Marinho e Pinto ainda tivesse lugar cativo nos programas da manhã? Em 2015, o PDR teve 60.988 votos, agora teve 9 mil. O Chega chegou aos 66 mil votos. Desejo-lhe o mesmo fim.
Interessa-me perguntar “como chegamos aqui?”…Como quis deixar claro, o populismo não é novo. Aliás, se Hernâni Carvalho criasse um partido, provavelmente conseguiria um lugar – a mensagem é simples, clara e funciona.
Para mim, é da responsabilidade do anterior Governo, ora por incompetência, desleixo e/ou irresponsabilidade, ter dado argumentos para que este tipo de discurso encontrasse mais espaço. É da responsabilidade deste e anteriores Governos não sermos capazes de enunciar uma estratégia para o país, preferindo negociar ano a ano, orçamento a orçamento, de medida a medida ou de gerigonça em geringonça.
Mas, também da responsabilidade dos partidos de direita, como o CDS, não terem uma comunicação coerente, precisa capaz de encontrar um lugar na mente e no coração das pessoas. Não posso deixar de recordar que Assunção Cristas teve um resultado nas Autárquicas de Lisboa que a fez acreditar que poderia chegar ao poder, ao mesmo tempo que camuflou o verdadeiro estado do partido a nível nacional. Ontem, foi para casa às nove da noite.
É da responsabilidade de Rui Rio ter sido arrogante e pouco competente durante 2 anos de deserto, numa oposição estéril. É da responsabilidade do PSD ter andado mais preocupado com as lutas internas do que com o futuro do país. E foi de lá que saiu André Ventura, foi no PSD, no tempo de Passos Coelho, que o colocaram à frente de uma lista para a Câmara Municipal de Loures. Ele fez o seu caminho e aproveitou e, segundo o que que diz a Visão também aproveitou para plagiar o programa de Manuel Monteiro. Palavras para quê? Se este fosse um movimento ideologicamente forte, teria mais espaço e mais orgulho nas suas próprias ideias. Para mim a sua agenda é outra e é bem mais pessoal.
O passar do tempo, ao longo dos próximos 4 anos, trará novidades: acredito que o Livre (que grande coragem) e a Iniciativa Liberal (que grande campanha, à qual só faltou um rosto) têm pernas para andar e seguirem o exemplo do PAN – crescerem e ganharem o seu espaço. Quanto ao Chega a seu tempo diremos Basta, pois o tempo mostrará o que este movimento tem para dar: absolutamente nada.